Freud e o Desejo do Psicanalista
Serge CottetQual é o desejo do analista? Esta é a pergunta crucial que o autor faz neste livro à obra do próprio Freud: nela há algo que, segundo Lacan, não foi analisado e deve ser decifrado.
Considerada na maioria das veze como eminentemente teórica, a obra de Jacques Lacan se define precisamente por uma determinada concepção da direção da cura analítica. Assim, quando Lacan introduz a categoria do desejo do psicanalista, isto permite redimensionar uma série de elementos da prática psicanalítica de modo congruente com o pensamento freudiano mais radical.
Na falta dessa categoria, por exemplo, os analistas pós-freudianos passaram a conceber sua experiência pelo viés ilusório da contra-transferência, transformando a cura numa relação dual, baseada na intersubjetividade imaginária. Contudo, o psicanalista não ocupa na cura o lugar de sujeito (elemento que constitui a dificuldade maior para a ocupação deste lugar), mas sim o de objeto, tal como Lacan veio a demonstrar.
Fazendo ampla referência aos textos freudianos e às diversas etapas percorridas por Lacan, Serge Cottet permite ao leitor refazer esse trajeto e repensar os principais elementos que estão na base da prática da psicanálise: a transferência, a interpretação e o lugar do psicanalista.
Pode-se então entender a afirmação de Lacan de que "o desejo do analista é o que, em última instância, opera na psicanálise".